domingo, 24 de julho de 2016

PROFESSORA MARTA BEZERRA DE MEDEIROS: A PROFISSÃO DOCENTE NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX (1915‐1954) Luciana Martins Teixeira dos Santos lucianamartins.teixeira@hotmail.com Maria Elizete Guimarães Carvalho (UFPB) Resumo Os estudos sobre as histórias de vida professorais vêm revelando que é possível conhecer a prática e a história da docência a partir de abordagens biográficas, esclarecendo questões que permearam/permeiam a profissão professor, tendo em vista compreender a crise que tem caracterizado essa profissão nos dias atuais. Dessa forma, esse trabalho tem o propósito de analisar a profissão docente na primeira metade do século XX (1915‐1954), tomando a história de vida da Professora Marta Bezerra de Medeiros como referência. As contribuições dos estudos biográficos para compreensão do exercício professoral configuram‐se na ação pedagógica, na postura docente, assim como nas relações sociais, afetivas e culturais desenvolvidas ao longo da vida profissional. A investigação que está sendo realizada sobre a história de vida da Professora Marta tem sido marcada pela hibridez, trabalhando‐se os procedimentos da pesquisa bibliográfica, considerando fontes escritas, iconográficas em conexão com a História Oral, em um processo de complementação de informações e dados entre as fontes, tomando‐se o arquivo biográfico da professora como principal referência. Esse trabalho utilizou‐se de entrevista, do material biográfico da Professora Marta Bezerra de Medeiros e dos estudos bibliográficos já realizados para compreensão de sua história de vida e análise da profissão docente no período de interesse. Os estudos sobre as histórias de vida no campo educacional permitem compreender como os profissionais da educação constroem seus percursos existenciais, sua trajetória de formação e profissional, os saberes sobre a realidade e sobre si mesmos, em uma concepção da biografização como interação entre o indivíduo e a sociedade. Assim a investigação sobre a trajetória professoral de Marta Bezerra de Medeiros apontou para a reflexão de que as pessoas não nascem professoras, elas se constituem docentes, por processos de formação e autoformação, imbricados em um tempo e espaço. Nessa compreensão, as questões que envolvem o ser professor atualmente estariam relacionadas com o passado da profissão. Palavras‐chave: Pesquisa biográfica. História de vida professoral. Profissão docente.   O referido trabalho faz parte das discussões realizadas pelo Projeto Professora Marta Bezerra de Medeiros: a profissão docente na primeira metade do século XX (1915 – 1954) / História de vida professoral (1915‐1954) vinculado ao Programa de Iniciação Científica e Tecnológica/ PIBIC/ UFPB/2011‐2012 (ainda em vigência), cujo propósito é tentar compreender a crise que tem caracterizado a profissão professor nos dias atuais, em face à depreciação e à autodepreciação que vem passando o exercício da docência. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 215 Partindo da compreensão de que ao estudarmos as histórias de vida professorais obteríamos o embasamento necessário para responder aos questionamentos relacionados à prática e à história da docência, à identificação sobre as possíveis razões do declínio e aos fatores que agregados contribuem para a desvalorização da profissão nos dias atuais, utilizamos a abordagem biográfica, investigação que vem sendo utilizada nos estudos recentes acerca da vida e da formação de professores, e que se situa no âmbito das investigações qualitativas. Daí a ideia de pesquisarmos sobre a vida pessoal e professoral de Marta Bezerra de Medeiros, docente que mesmo com dificuldades físicas, materiais e intelectuais constituiu‐se um marco para sua época. Conforme Carvalho (2009, p. 6 ): A professora Marta Bezerra de Medeiros foi artífice do seu tempo. Tendo nascido mulher e constituído‐se professora na primeira metade do século XX, tanto reproduziu como reinterpretou/recriou as características e representações da mulher professora. Cabe então investigar as práticas culturais/sociais vivenciadas/desenvolvidas por Marta, ao lado das representações de sua prática docente em um contexto social local, em um momento em que se construíam novos saberes sobre a docência, tendo em vista a quebra de paradigmas sobre seu exercício. Observa‐se, então, a necessidade de pensar/questionar acerca das transformações ocorridas na docência, durante a primeira metade do século XX, tanto no que diz respeito à prática, quanto às características (gestos, postura, vestimentas, comportamento) que marcavam a profissão nesse período. Em face dos estudos realizados, a prática da professora Marta Bezerra de Medeirosjá apresentava características dessas mudanças.    A partir desse propósito, estamos utilizando a biografia como recurso metodológico, visto que é um recurso que agregado a fontes orais, documentais e iconográficas coloca o sujeito como agente ativo e passivo no processo de reflexão / ação. Nesse sentido, lançamos o olhar para os desafios da pesquisa biográfica, fazendo da escrita de si um lastro para a compreensão da profissão docente. Também realizamos estudos teóricos a partir de fontes escritas, documentais sobre Memória, História, contexto social da época de interesse e sobre vida professoral. Buscamos esclarecimentos acerca da problemática educacional ao estudarmos a vida pessoal e profissional da professora Marta Bezerra de Medeiros para entender como se apresentava a educação na primeira metade do século XX, estabelecendo uma comparação com a educação nos dias atuais. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 216 Para contribuir com essa compreensão, foram elaboradas algumas questões utilizadas nas entrevistasrealizadas com o filho da professora, o Prof. Dr. Luiz Gonzaga Bezerra de Medeiros.   Buscamos a partir desses questionamentos provocar no entrevistado uma volta ao passado, a um tempo próprio e peculiar, tendo em vista que toda memória individual é também social, uma vez que a mesma não brota de indivíduos isolados, mas sim dos marcos de necessidades e valores de uma sociedade, como afirma Halbwachs (2006). Foi através dos documentos e relatos coletados sobre a professora Marta, que pudemos compreender o que orientou uma jovem órfã a lutar contra limitações físicas e sociais, direcionando sua vida e a profissão escolhida, contribuindo para a transformação do modelo de ensino‐aprendizagem vigente em sua época. Por não usar a palmatória como recurso para dominação/aterrorização dos alunos no ensino das primeiras letras e das operações matemáticas como as professoras de seu tempo, Marta Bezerra conquistou seus alunos criando outras formas de educar na primeira metade do século XX, construindo vínculos de amizade, inovando a profissão docente. Outro ponto marcante da trajetória da professora foram suas relaçõessociais e políticas. Passeggi (2010) explica a escolha pelo recurso biográfico, afirmando que biografar a vida de um indivíduo é dar forma as suas experiências, construindo uma consciência histórica de si e de sua aprendizagem nos vários aspectos da vida, que no caso do professor, se constitui em uma relação pessoal‐profissional, uma vez que ao analisarmos sua história de vida, pretendemos interpretar seus padrões de comportamento, que influenciam os demais indivíduos, grupos que interagem cotidianamente. Nesse mesmo sentido, Barreiros (2006, p. 20) assinala que a identidade do professor começa a ser moldada durante sua fase escolar, começa na infância e se prolonga no desenvolvimento da profissão, onde serão “sedimentados os pressupostos e as diretrizes presentes no curso formador” (BARREIROS, 2006. p. 20). Destarte, esse recurso permite compreendermos as questões que permearam / permeiam a profissão, os papeis atribuídos ao professor, a formação de sua identidade e o espaço ocupado pelo docente ao longo da história. A biografia tem revelado trajetórias desconhecidas e inusitadas, atribuindo importância a vidas cotidianas e aparentemente sem sentido. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 217 Enquanto conjunto de representações que o indivíduo constrói da própria vida e de sua história, a biografia tornou‐se um componente e um horizonte do campo educativo. A maneira como os indivíduos biografam suas experiências e, em primeiro lugar, a maneira como integram em suas construções biográficas o que fazem e o que são na família, na escola, na sua profissão e na formação continuada são parte integrante do processo de aprendizagem e de formação (DELORY‐MOMBERGER, 2008, p. 30).     Os estudos realizados utilizaram‐se de eixos conceituais da biografia (PASSEGGI, 2010), profissão professor (NÓVOA, 2006); vida e profissão da professora Marta Bezerra de Medeiros: Carvalho (2009, 2011), Medeiros (2000), Ribeiro (1997); e sobre o contexto histórico da primeira metade do século XX, autores como Nagle (2001), Saviani (2008), Ribeiro (2007), Ghiraldelli (2006). Os estudos realizados são pressupostos, embasamentos teórico e metodológico para releitura e ressignificação da profissão docente, para compreensão dos fenômenos biográficos e da história de vida professoral na primeira metade do século XX.   Realizamostambém o levantamento do material biográfico da professora Marta Bezerra de Medeiros onde encontramos documentos pessoais como: cadernos de estudo da 1ª série do primário, cadernos do curso complementar; boletim escolar do curso normal (1955); uma peça de tecido bordado por ela com 13 anos de idade, uma amostra de cores (das fazendas) dos vestidos comprados por ela; poemas feitos para homenagear sua mãe (biológica) e o pai adotivo; cartas e cartões recebidos de ex‐alunos, amigo (as); cartas de amor para o marido; fotografias da professora em vários momentos de descontração e trabalho; lista de matricula escolar da turma, em que lecionava de 1948‐1949; caderneta da escola Isolada em Itaretama (1948). E documentos oficiais escritos nos gabinetes de prefeitos, do governador da época; correspondências trocadas com o Presidente da República, fatos que nos mostram sua influência nas relações sócio‐políticas daquele período. Mediante essa conjuntura de dados e fatos, discutiremos ao longo do trabalho sobre como se apresentava o contexto social e político do Brasil na primeira metade do século XX, tentando compreender os motivos que causaram a depreciação e desvalorização da educação brasileira e da profissão docente entre os anos de 1915 a 1954, período contemplado pelo nosso estudo, por se tratar do período de nascimento e atuação da professora Marta Bezerra de Medeiro nas Escolas Isoladas do Estado do Rio Grande do Norte, procurando entender o que levou uma menina órfã, IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 218 com limitaçõesfísicas e de pequenas posses a buscar na profissão professoral seu lugar no mundo, contemplando as transformações/inovações realizadas por ela no processo de ensino‐ aprendizagem dos alunos das EscolasIsoladas de Nova Olinda, Pedra Preta e Lajes.   Discussão: História de Vida Professoral (1915‐1954) O contexto educacional brasileiro entre os anos de 1915 a 1954 foi marcado por vários acontecimentos no cenário sociopolítico e econômico. O país se encontrava na transição de uma economia colonial, agrária para uma economia industrial, capitalista. O processo de urbanização industrial fomentou o surgimento de grupos que lutavam pela construção de um novo país, o contato com a cultura trabalhista europeia e dos Estados Unidos despertou a necessidade de escolarização para suprir a falta de mão de obra qualificada para operar as máquinas. Resta lembrar que a educação do país caminhava a passos lentos, distante do desenvolvimento da sociedade, que exigia essa mão de obra qualificada, ou pelo menos, pessoas alfabetizadas.   Assim os Movimentos político‐sociais, as correntes de ideias e os movimentos educacionais deste momento objetivavam transformar esse cenário, criando uma sociedade mais justa e igualitária, com mais escolas e de boa qualidade que atendessem a um número maior da população. Nesse contexto foram inseridas no país algumas das ideias principais dos movimentos vigentes socialistas, anarquistas e maximalistas, que disseminadas no início do século XX tiveram o êxito de acordar a nova classe operária que se formava no Brasil para a luta reivindicatória que era preciso travar com a classe dominante. As ideias socialistas/anarquistas já eram conhecidas, discutidas e vivenciadas na Europa, mas, no Brasil só ficaram conhecidas nos primórdios da República Velha, trazidas pelos estudantes brasileiros que voltavam de lá e, principalmente pelos novos imigrantes, pois com o fim do regime de escravidão e começo da nova “urbano‐industrialização”, para aqui vieram muitos europeus, cujos avanços no campo social em seus países estavam bem a frente do Brasil, o que vai contribuir para a insatisfação e desejo de mudança na ordem vigente. Suas ideias eram difundidas através de periódicos e publicações espalhadas pelo país, despertando nos operários o desejo pela IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 219 alfabetização, para que pudessem entender e debater ativamente os assuntos levantados pelos sindicatos. As ideias anarquistas no Brasil bem como suas difusões, confundem‐se com o socialismo com um diferencial básico, os anarquistas diferentemente dos socialistas, desde o início partiram para a ação concreta, que consistia desde a alfabetização dos operários até o enfrentamento através de movimentos grevistas, procurando assim melhorar as condições de vida e trabalho dos operários. Vale salientar que grande parte das conquistas sociais dos trabalhadores dessa época deve‐se aos congressos operários. Os anarquistas, tal como os socialistas sofreram uma pressão muito grande do poder constituído, que passou a chamar de “anarquistas” todo aquele que de alguma maneira, subvertesse a “ordem pública”, tanto que era perigoso até pronunciar o nome “anarquista” sem correr risco de ser preso. Por sua vez, o Maximalismo chegou ao Brasil sob a influência da Revolução Russa e do Bolchevismo. Assim como aconteceu com o Partido Socialista, tão logo foi fundado também caiu na clandestinidade, assim mesmo nesse período foram organizados três Congressos Constituintes, onde foram defendidas as bases da organização, a situação política internacional e nacional e a questão camponesa, luta contra o fascismo, imigração e questões dosinquilinos. Entretanto, esses Movimentos não levaram em consideração a realidade brasileira do momento, pois não bastava simplesmente difundir e aplicar as ideias sócio‐anarco‐comunistas, era preciso ajustá‐las ao cotidiano nacional, razão porque as elites do período logo, e de maneira forte, fizeram um trabalho de repressão, enfraquecendo assim esses movimentos. Mesmo assim, foram responsáveis pelo desenvolvimento e discussão de um problema social importante: o da participação do operariado na organização da sociedade brasileira que se formava.   Outro Movimento de respaldo no processo de industrialização do país na segunda década do século XX, foi o Nacionalismo, mais precisamente surgido em 1920. Diferentemente dos movimentos anteriores, ele começa a ser inserido diretamente no contexto escolar, nas disciplinas de moral e cívica e na rotina escolar brasileira, durante o hasteamento da bandeira, os hinos e as cantigas acerca dos símbolos nacionais e histórias referente ao sentimento patriótico, que têm por objetivo despertar nas crianças e adolescentes o sentimento de amor e respeito a pátria, clamando pela valorização do nacional, que de acordo com Nagle (2001. p. 67) essa “pregação nacionalista IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 220 centraliza‐se‐á na formação da consciência nacional”, buscando desconstruir a ideia de que a mestiçagem cria um povo fraco contribuindo para a valorização do brasileiro nato. O Nacionalismo influenciou a criação das Ligas Nacionais, destacando‐se a Liga Nacionalista de São Paulo, surgida em plena efervescência do entusiasmo patriótico; foi a mais significativa devido sua ideologia e militância, estando comprometida com assuntos políticos enquanto que a Liga de Defesa Nacional se remetia as questões militares. Segundo NAGLE (2001, p.69), seus objetivos eram “lutar pela federação e unidade nacional, pela defesa nacional, pela efetividade do voto, pelo desenvolvimento da educação cívica, da educação primária, secundária e profissional”. Preocupava‐se em combater o analfabetismo e disseminar a instrução popular, pois só assim o povo poderia ter seu direito ao voto respeitado e garantido, podendo participar diretamente das decisões políticas, tirando das mãos dos aristocratas o domínio das decisões nacionais. O voto deveria ser obrigatório e secreto, pois só através dele era realizada a verdadeira democracia.    Seu fechamentos se deu por fatores de cunho político e pelo fato de terem se envolvido com os movimentosrevolucionários do século XX.    Diante desta efervescência nacional, surge a nova corrente nacionalista organizada em torno da “Revista Brazílea”, em 1917, por Álvaro Bomílcar e Arnaldo Damasceno (diretores) com a colaboração de Jackson de Figueiredo. Ela abordava assuntos como manter a religião católica, libertar o meio intelectual da ficção dos valores portugueses, nacionalizar o comércio e a imprensa lusitanos, valorizar o mestiço, criticava a hegemonia paulista e lutava pela defesa da civilização agrária. Inaugurando um modelo diferente até então de perceber a temática nacionalista, como um vocabulário mais cáustico e menos genérico de fácil assimilação, causando grandesreviravoltas no cenário social, que mais uma vez, colocava na mão do homem seu direito a mudança. Dois anos depois é fundada a “Propaganda Nativista” de caráter eminentemente político, cujo slogan era “ O Brasil para os brasileiros”, sua organização se pautava para o estudo das coisas brasileiras, com o objetivo de mostrar a melhor orientação para conservar a ordem e a República. Em 1920 é fundada a “Ação Social Nacionalista” instituição cívico‐patriótica, da qual o panfleto nacional Gil Blas será órgão oficial, em substituição à Brazílea, preocupando‐se com a paz, concórdia, fraternidade, defesa e preservação. Ainda preocupado com a emancipação do Brasil, valorização de tudo o que é brasileiro, a propaganda do civismo e a congregação de todos os IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 221 brasileiros natos, seus fins se consistiam no zelo pela ordem constitucional, a obediência às leis, o respeito às autoridades constituídas, o combate às doutrinaslibertárias e subversivas, sustentando a fórmula “Contra o anarquismo, o nacionalismo”. Acoplados aos Movimentos político‐sociais que lutavam pela valorização e respeito da sociedade estavam os movimentos educacionais que objetivavam transformar esse cenário, criando escolas e melhorando a educação.  O “entusiasmo pela educação”, que propunha abertura de mais escolas, com preocupação quantitativa e o “otimismo pedagógico”, que comungava a ideia de uma reestruturação nos métodos e conteúdos escolares. As ideias disseminadas pelo entusiasmo pela educação não tiveram vida longa, tendo em vista a importância do ideário pedagógico norte – americano que pugnava por uma reforma educacional, defendendo a criação de uma inter‐relação pedagógica “com a arquitetura escolar, a relação de ensino‐aprendizagem, a forma de administrar as escolas, as formas de avaliação e a psicopedagogia” (GHIRALDELLI, 2005. p. 32). É nesse contexto que registramos a falta de interesse pelo trabalho dos professores, que não faziam parte dessasreformas. Conforme Ribeiro (2006, p. 32): [...] as verbas eram insuficientes para um atendimento a um tempo quantitativo e qualitativo melhor. [...] o modelo político‐econômico (agrícola‐comercial exportador), sendo contrário a redistribuição do lucro, comprometia tais verbas destinadas ao atendimento popular. E para o educador se colocava o dilema: atender menos e melhor, ou mais e pior. Esses fatores geram insegurança no exercício da profissão professor, pois a abertura de um maior número de escolas traria para as salas de aula uma grande quantidade de alunos, o que comprometeria a qualidade do ensino aprendizagem. Porém, o otimismo pedagógico, que orientava para a ressignificação do modelo pedagógico tradicional, conquista espaço entre educadores e estudiosos. No âmbito desse processo de otimismo pedagógico, da insatisfação e desejo de mudança na ordem vigente, da liberdade de acesso a informação e da valorização do nacional vai sendo construída a identidade de professora de Marta Bezerra de Medeiros, que tendo nascido em 1915, testemunha as dificuldades de escolarização da população no final da Primeira República. Seu IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 222 trabalho é desenvolvido no sentido de melhorar os alunos enquanto seres humanos, preocupando‐se com cada um em particular. Optamos por contextualizar os estudos feitos desde o seu primeiro contato com a escola, durante a infância, uma vez que a identidade professoral é construída a partir dessa etapa da vida, em que tomamos como modelo os primeiros mestres, seus comportamentos e valores. Essas representações somam‐se a outras ao longo de nossas histórias de vida, refletindo‐se nas experiências cotidianas, ações, posturas profissionais e pessoais, configurando‐se como saberes construídos sobre a profissão. Esquisani (2010, p. 104) leva‐nos a questionar “em que local aprendemos o estilo de vida dos professores?” Será que é a partir da formação nos cursos de magistério, ou quando observamos os nossos professores do primário, em que nossa memória é responsável pela configuração e representação da figura do professor em nosso imaginário.      Compreendemos assim que a identidade do professor é um processo continuo, desenvolvido ao longo do tempo. Começa antes de iniciar o processo de formação e prolonga‐se ao longo da vida, atravessando múltiplos contextos, vivendo vários dilemas, construindo conhecimento em vários domínios. É um processo que atravessa toda a vida dos sujeitos, um eterno moldar‐se às características ligadas a educação. Nesse sentido Esteve (1999) ressalta que as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos também influenciaram a vida pessoal e profissional dos professores. Ou seja, construir sua identidade de professor, em que os saberes das experiências são importantes, mas somente estes não bastam, são insuficientes. A docência representa um desafio e exige conhecimentos, competências e preparação específica para seu exercício.   Nesse processo espera‐se a aquisição da qualificação profissional mínima e a certificação, habilitando‐se legal e tecnicamente para o exercício profissional. A formação inicial refere‐se a sua profissionalização, mas não se resume a ela. A profissionalização percorre outros caminhos que não são garantidos somente pelo processo formativo. Mesmo a professora Marta, vivenciando uma pedagogia baseada na observação e repetição das atitudes do professor, conseguiu desenvolver uma prática que contrastava com o trabalho pedagógico de sua época. Possuía moral indubitável, mas já apresentava as características de uma mulher a frente do seu tempo. Observemos o que Carvalho (2009, p. 5) afirma sobre ela: IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 223 Ao contrário das professoras da época, Marta não se escondia no exercício professoral. Usava roupas coloridas que deixavam transparecer sua beleza. Usava maquiagem, delineava o olhar e seus cabelos estavam sempre bem penteados, com fitas coloridas ou outros adereços. Sua postura, apesar de autoritária, não impunha pavor aos alunos. Era o velho modelo professoral sendo recriado/aprofundado pelo novo. Percebemos essas marcas ao estudarmos seus documentos, a atenção que dedicava a cada aluno, tratando todos com carinho e respeito, nunca usando a palmatória ou outro castigo físico para obter o respeito ou cumprimento das atividades por parte dos alunos. Vaidosa, sempre estava bem arrumada e com os cabelos penteados e ornamentados por laços ou fitas; sempre perfumada, com os lábios pintados, sorridente e alegre bem diferente da postura das professoras da época, que pregava rigidez, severidade e total falta de envolvimento emocional com alunos. Podemos constatar isso através do testemunho de seu filho: [...] Teve casos que a mãe do aluno, o matriculava diretamente no Grupo Escolar, aí o menino chorava, ficava no grupo uma semana, duas e não dava certo. Aí a mãe vinha falar com Mamãe. – Marta, tu pega esse menino só por uns dias, enquanto ele se acostuma? Aí mamãe dizia, tá certo! Aí quando o menino subia no palanquezinho da cadeira de rodas, que ela pegava na mão e dava um cheiro, que passava a mão na cabeça, aí pronto, ali o menino já estava conquistado. Quando a mãe vinha tirar o menino, o menino dizia. ‐ Não vou!  Aí pronto chorava e tudo de novo. Aí o menino ficava na Escola Isolada. (MEDEIROS, 2012, p. 3). Constatamos que mesmo tendo sido educada no âmbito de uma pedagogia tradicional, na qual o professor era o centro do processo de ensino, a Profa. Marta procurava por em práticas as novas ideias que circulavam no contexto educacional, as ideias da escola renovada, que privilegiavam o aluno e a aprendizagem. Ao mesmo tempo em que colocava em prática essas ideias, também buscava melhorar seu trabalho, tomando como fundamento a pedagogia explicitada no livro “Educação e Ensino” de João Henrique Pestalozzi, presente ganho do amigo e Inspetor de Ensino, professor Francisco Rodrigues Alves, em que o amor, o carinho e a atenção deixavam o ambiente escolar mais prazeroso e aconchegante para aluno e professor. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 224 Outro ponto importante é que ela nunca ministrava suas aulas desarrumada, dava aulas de salto alto, pintada, maquiada, cabelo bem cortado e ornamentado por laços, fitas e/ou flores, se tivesse joias as colocava. Possuía uma parte do seu vestuário destinado a sala de aula, pois dizia que a professora não podia apresentar‐se aos seus alunos mal arrumada, ao contrário deveria estar física e emocionalmente bem resolvida, para que   seus alunos sentissem segurança nos conhecimentos ofertados por ela.   Trajetória de vida pessoal e profissional de Marta Bezerra de Medeiros e sua atuação nas Escolas Isoladas do Rio Grande do Norte: práticas e representações de uma vida professoral Marta Bezerra de Medeiros nasceu no dia 19 de fevereiro de 1915 na cidade de Jardim de Angicos no Estado do Rio Grande do Norte. Era filha de Manoel Bezerra da Cunha e Ana Herminina de Paiva Cunha (falecida após o nascimento de Marta). Nascida em pleno início do século XX, recebeu influência na vida pessoal e profissional recorrente dos vários acontecimentos que presenciou e/ou participou durante sua formação. Órfã de mãe e com a decisão do pai em casar‐ se novamente, foi dada aos cuidados de Manoel Lourenço e Maria Rosa Bandeira de Melo, seus pais adotivos. Aos seis meses de vida é acometida de poliomielite, deixando‐a com sequelas no membro inferior esquerdo. Estudou no Grupo Escolar Pedro II e na Escola Complementar (que preparava para o magistério público primário) de Lajes, onde começa a moldar suas características de professora. Sua formação foi marcada pelo modelo positivista de educação, pautado na memorização e repetição dos assuntos. Em 1931 foi agraciada com o livro “Vitória pela Cruz” por ter sido uma das melhores alunas, formando‐se no mesmo ano. Sua vida profissional tem inicio em 1932 quando é nomeada para o cargo de professor da Prefeitura Municipal de Lajes, na Escola de Nova Olinda, com apenas 16 anos, onde ficou até 1945.   O sonho de toda moça que trabalhava nas Escolas Municipais era ascender ao professorado Estadual, que passou também a ser o desejo de Marta. Nesse período o casamento ainda era a instituição mais digna de crescimento destinada a mulher, sendo o magistério, outra forma de ascensão profissional indicada. Assim o desejo de se tornar professora toma proporções IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 225 enormes para aquelas que não tinham um bom dote. A profissão docente se encontrava em alta para a classe feminina da época, e uma despesa menor para o estado que não precisava mais sustentar mulheres órfãs, viúvas que dependiam dele para sobreviver; o Estado precisado de um número elevado de profissionais, a um custo baixo para os cofres públicos, resolvendo delegar a atividade docente para as mulheres, tirando o homem do centro dessa atividade. Assim, pretendemos com esse ensaio demostrar a influência que Marta exerceu na educação neste tempo e espaço. Ensinava nas Escolas Isoladas, de Caiçara do Rio dos Ventos, Pedra Preta e Lages “às crianças, adolescentes e aos adultos ler, escrever, contar, somar, dividir, subtrair, votar e inculcar no espírito dos seus alunos a necessidade dos estudos na busca de uma profissão – vocação e das transformações em suas vidas pessoais” (GONZAGA, 2012. p.123), orientando seu alunado acerca da importância/necessidade da educação para o desenvolvimento do homem cidadão responsável pela sua vida e pelas mudanças que estavam ocorrendo no país. Segundo CARVALHO (2009): O contexto histórico brasileiro da primeira metade do século XX é marcado por continuidades e transformações nos planos político, econômico e social, que apontam para novos comportamentos, para o surgimento de conflitos internos, movimentos sociais, correntes de idéias, orientando para a conservação ou reformulação da ordem social. O regime republicano continuou privilegiando as oligarquias, que se fortaleceram com a política dos governadores, dando continuidade ou aprofundando o fenômeno do coronelismo e do patriarcalismo. Nesse cenário, inexistia a formação de uma “mentalidade republicana”, já que a prática política revelava‐se como federal e antipartidária. Essas ideias pregavam a igualdade e liberdade de direitos, mas, se de um lado os movimentos pregavam a ascensão da população com direito a educação, trabalho, a participação, o conhecimento da leitura e do cálculo, por outro lado as grandesindústrias necessitavam de mão de obra qualificada e barata para operarem as máquinas que estavam surgindo com o advento da industrialização que exigia no mínimo a instrução da leitura e do cálculo. O que de certa forma contribuiu para a escolarização da camada mais pobre da sociedade, que passou a ter direito ao acesso as escolas. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 226 Destarte, a professora Marta exerciam suas atividades nas escolas isoladas das cidades de Caiçara do Rio dos Ventos, Pedra Preta e Lages – RN, em um tempo onde o direito ao conhecimento era restrito a poucos, as escolas isoladas do Rio Grande do Norte, se propunham a desenvolver uma educação voltada para o bem‐estar pessoal e social, divulgando a ideologia que só com a extinção do analfabetismo, seria construída uma sociedade justa e igualitária. Mas o que foram as Escolas Isoladas?1 Segundo MEDEIROS (2012, p. 123) “as Escolas Isoladas, no Brasil, foram herdadas do oitocentos, onde eram multi seriadas, concomitantemente convivendo com a educação familiar e doméstica”. Nesse modelo de escola os professores eram obrigados muitas vezes a utilizar sua residência como local para a ministração das aulas, uma vez que, não havia prédios apropriados, o salário era baixo, e ainda chegava a atrasar o pagamento. Além da falta de estrutura física, existiam outras carências que prejudicavam o ensino como a falta de bibliotecas, merenda, material didático. O que contribuiu para a pouca procura e a conclusão dos estudos. Com a República e as reivindicações dos movimentos sociais pela instrução pública de qualidade e para toda população brasileira, surge também o direito ao trabalho feminino, a mulher agora através do magistério pode fazer parte da economia familiar. O surgimento dos prédios escolares vai testemunhar o trabalho da mulher no magistério público, introduzindo‐se no seio do novo modelo urbano‐industrial‐capitalista em vigor. O que de certa forma contribuiu para a feminização do magistério. As professoras das Escolas Isoladas do Século XX eram pessoas alfabetizadas, formadas pelos Cursos Complementares, muitas vezes eram mulheres jovens, que buscavam na docência uma profissão respeitosa, que pudesse contribuir para as despesas pessoais e/ou do lar. Sua                                                             1 Podemos dizer que as escolas isoladas foram o primeiro modelo de organização da educação brasileira que não era dirigido pela igreja católica, sendo criado para atender as necessidades do Estado e diminuir o poder dos eclesiásticos, tendo sua origem quando o Marquês de Pombal, inspirado nas ideias iluministas de Luís Antônio Verney, resolveu promover uma reforma na educação da colônia brasileira, expulsando os jesuítas e delegando as províncias a obrigação de promover a educação do povo. As Escolas Isoladas adentram no período Imperial, em um modelo de sociedade agrária, onde a maior parte da população pertencia ao campo, sendo composta por escravos que não possuíam direitos, e desenvolvendo atividades que não necessitavam de maiores conhecimento e/ou instrução educacional. Devido as características deste período, não se reivindicava o direito a instrução pública, deixando o Estado livre e sem obrigação de construir/manter um grande número de escolas públicas que atendessem a todos, assim as poucas escolas do Império se encontravam nos centros urbanos e eram destinadas aqueles indivíduos que necessitavam da habilitação de saber ler, escrever e contar para exercer sua profissão.    IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 227 indicação podia partir de fins políticos, uma espécie de curral eleitoral, com o intuito de alfabetizar o maior número de indivíduos aptos para votar nas eleições do novo regime. Foi o que aconteceu com Marta quando resolveu se tornar professora. Porque naquele período, as moças resolviam ser docentes, porque era a profissão que lhe era oferecida naquela estrutura social. Marta então passou a usufruir um status social respeitado e que lhe trouxe grandes oportunidades. Passou a se vestir melhor, começou a andar na moda, a comprar joias, casas, livros e fez amizade com pessoas influentes da sociedade e da política local e estadual, como foi o caso de sua amizade com o Professor e Inspetor do Ensino Francisco Rodrigues Alves. Esse professor era quem falava sobre as ideias dos Movimentos Sociais e correntes de ideias que circulavam na época, como o socialismo, anarquismo e maximialismo. A jovem Marta   ouvia e assimilava essa novas ideias, mesmo com resistências por ser uma católica fervorosa. Ele proporcionou a ela o acesso a várias áreas de conhecimento quando a presenteava com livros diversos do próprio Departamento de Educação. Foi ele também que conseguiu a junto ao Governo Federal, na época de Getúlio Vargas, a doação da cadeira de rodas que a Professora usava. Outra amizade de grande importância na vida da Professora Marta foi com Carolina Augusta da Silva Marques, que possuía mais de dois cursos de segundo grau, por isso gozava de grande influência social, e que ajudou Marta a ser nomeada professora substituta da Escola Isolada de Pedra Preta e também presenteava a professora com livros. Foi a responsável pela sistematização do seu saber. Sendo autodidata, Marta começou a aprender francês em casa, por intermédio de um livro dado por Carolina Augusta (MEDEIROS, 2012).   Sua fama de boa professora se espalhou nas cidades e todos queriam ter aula com a professora da cadeira de rodas. Sua prática pedagógica consistia em enxergar cada aluno como único, respeitando suas dificuldades e limitações de aprendizagem, criando métodos de fácil assimilação e participação em sala de aula. Preocupava‐se em ensinar a ler, escrever, contar, soletrar, exigindo dos alunos uma boa caligrafia e responsabilidade com astarefas escolares.   Fazia questão em receber os alunos um por um na porta da sala de aula, realizando um atendimento individual na correção das tarefas, pegava na mão para ensinar a caligrafia correta. Ensinava as turmas da 1ª, 2ª e 3ª séries, além de preparar para o ensino de admissão para os IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 228 Grupos Escolares. Na mesma sala, dava aula a todas as turmas. Como sua metodologia de ensino primava pela repetição e assimilação dos assuntos, terminava ensinando tudo a todos, fazendo assim, com que os alunos tivessem acesso aos conteúdos de todas as séries. Por anos sua escola foi procurada pela comunidade local e adjacências, por exercer um novo modelo escolar sério e comprometido com seu público, valorizando a essência do ser professoral. Considerações Finais Esse trabalho ainda está em desenvolvimento, mas podemos considerar que ele constituirá subsídios para compreender/esclarecer questões do presente relacionadas à profissão docente, contribuindo para o conhecimento de práticas educativas e de saberes sobre a profissão professor em contextos e momentos diversificados. A proposta de construir interfaces entre a vida e a história resultará em conhecimentos relevantes sobre a docência, como subsídios para a história professoral, contribuindo para a compreensão dessa profissão na atualidade. As histórias de vida no campo educacional permitem compreender como os profissionais da educação constroem seus percursos existenciais, sua trajetória de formação e profissional, os saberes sobre a realidade e sobre si mesmos, em um processo de biografização resultante da interação entre o indivíduo e a sociedade. A história de vida da Professora Marta Bezerra de Medeiros, compreendida a partir do seu arquivo biográfico e dos testemunhos orais, traz para a historiografia da educação outros olhares sobre a docência e sobre a prática professoral na primeira metade do século XX.   Referências BARREIROS, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimundo Abou. Práticas de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. CARVALHO, Maria Elizete Guimarães. Professora Marta Bezerra de Medeiros: a profissão docente na primeira metade do século XX (1915‐1954)/História de vida professoral. UFPB: João Pessoa, 2011.   _______. Marta Bezerra de Medeiros: vivências e práticas educativas de uma professora na primeira metade do século XX (1915‐1954). In: SEMINÁRIO NACIONAL DE GÊNEROS E PRÁTICAS CULTURAIS. 2009, João Pessoa. Anais ... João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2009. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 229 ESQUISANI, Rosimar S; WERLW, Flávia O. C. Ser professora: um estilo de vida pontuado pela formação. Revista HISTEDBR On‐line, Campinas, n. 38, p. 104‐115, jun. 2010. ESTEVE, José. Mudanças sociais e mudanças na educação: da educação de elite à educação de massa. In: NÓVOA, A. (Org.). Profissão professor.  Porto: Porto Editora. 1999. p. 95‐108. GHIRALDELLI, Paulo JR. História da educação brasileira. São Paulo: Cortez. 2006. MEDEIROS, Luiz Gonzaga B. 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